A hora do café - História, cultura e magia
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De RotadoCafé |
A lenda do café se perde no tempo, como nos conta Ali El-Khatib, que cresceu em meio aos cafezais no Paraná.
Partindo da Etiópia, o café virou riqueza entre os árabes. Existem registros de que a fruta era cultivada e consumida já no século seis. Mas somente mil anos depois, na Pérsia, os primeiros grãos de café foram torrados para se transformarem na bebida que conhecemos hoje.
Rapidamente a Europa se encantou com o chamado “vinho da Arábia”. As cafeterias se difundiram na Europa enquanto florescia o Iluminismo e se planejava a Revolução Francesa.
Entre os árabes, as sementes de café eram guardadas como um tesouro, mas aos poucos a planta começou a ser cultivada nas colônias da América Central.
No Brasil, em 1727, o governador do Pará enviou o jovem oficial português Francisco de Mello Palheta à Guiana Francesa para resolver problemas com as fronteiras. No entanto havia também a missão secreta de trazer o café para o país, como conta o professor da Universidade do Café Uni Octavio, Davi Teixeira.
"Nessa história não faltaram lances românticos. Conta-se que a esposa do governador da Guiana Francesa se apaixonou pelo galante Francisco de Melo Palheta e, no final, o presenteou com algumas sementes e cinco mudas de café"
Davi Teixeira também é professor na Associação Comercial de Santos e destaca que o café se entranhou na história do Brasil. A riqueza, a degradação ambiental e a dor da escravidão brotaram das lavouras.
"Naquela corrida de ser uma coisa maravilhosa que enriquecia as pessoas, eles derrubavam aleatoriamente tudo. Só pra você ter uma ideia de quanto sangue jorrou no café, o café era plantado em linha reta, que é pra sempre um capataz, mesmo a 500 metros... era exatamente a fiscalização para ver se os escravos estavam trabalhando ou não."
Em 1840, o Brasil se tornou o maior produtor mundial. No auge, o café chegou a responder por 70% das exportações brasileiras. No entanto, o excesso de produção e a crise financeira internacional de 1929 contribuíram para que o café fosse perdendo força na economia. Hoje, ele responde por menos de 5% das exportações. Mas ainda assim, a tradição cultural segue unindo riqueza e café, como destaca a egípcia Suzana Sevian.
"Se você tomar um café na sua casa ou em um restaurante ou em uma cafeteria, beba normal, mas se sem querer você derrubar na sua roupa ou derrubar no chão, pode ter certeza, está entrando dinheiro limpo na sua mão."
Além de reunir as pessoas, o café virou símbolo do destino. A leitura dos desenhos da borra do café é uma tradição árabe que se difundiu pelo mundo. A assistente comercial Sandra faz a leitura pelo menos duas vezes por ano.
"Dá uma tranquilidade, de certa forma dá uma paz, algumas revelações pra desenrolar algumas coisas da vida, do mundo, eu gosto disso. Você vê os desenhos na xícara? Vejo, eu tenho facilidade de enxergar os desenho, ela me mostra e eu vejo exatamente."
Quem faz a leitura da xícara de Sandra é a iuguslava Linda Milovic. Sua mãe trabalhou na Cruz Vermelha, onde conheceu o oráculo com café.
Há doze anos em Brasília, Linda abriu um café com comidas típicas dos Balcãs, mas fez sucesso mesmo é com a leitura da xícara. Ela fala que o café é simplesmente um convite para uma conversa.
Segundo Linda, os desenhos não adivinham, mas podem mostrar caminhos a serem trilhados pela força do desejo de cada um.
"Ela me inspira e eu oriento as pessoas dando uma nova possibilidade, não eu, a xícara. E assim se torna uma conversa e a pessoa conseguindo tudo sozinha e achando que foi algo do destino que orientou ela. Pode ser destino também, mas eu acredito que a pessoa sozinha cria o seu próprio destino."
Mesmo sem a leitura da sorte, o café deixa suas marcas no destino dos homens. É bebida companheira de buscas e recomeços.
De Brasília, Daniele Lessa
quarta-feira, 26 de maio de 2010
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