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Análise da semana de 1º a 5 de junho - O dólar americano encerrou a semana mais forte depois de ter feito novas mínimas. O índice do dólar - uma cesta de moedas que inclui o euro, a libra esterlina, o yen japonês, o franco suíço, o dólar canadense e a krona sueca - negociou próximo dos 78.00 pontos na terça e quarta, mas na sexta-feira fechou a 3.02% das mínimas, reagindo aos números não tão ruins do mercado de trabalho americano. Os indicadores econômicos divulgados durante a semana mostraram que de fato a velocidade do desaquecimento diminuiu, porém não se sabe se o efeito é transitório já que o desemprego atinge o maior nível desde 1983 - 9.4% nos EUA - apesar do número de dispensas de trabalhadores ter diminuído pelo 5º mês consecutivo.
A curva de juros no mercado americano entre os títulos de 2 e 10 anos voltou a alargar para níveis recordes, que foi o motivo que causou a fraqueza do dólar recentemente com o receio de que os americanos tenham que pagar mais juros para que o mundo financie o seu deficit. A preocupação inclusive foi a razão principal da visita do secretário do tesouro à China, maior financiador da dívida gringa, e o assunto também foi debatido pelo presidente do FED (Banco Central) diante do congresso estadunidense na última quarta-feira.
Com o coro dos otimistas aumentando e a imprensa destacando comentários de analistas que crêem que a recessão está muito perto de acabar (alguns inclusive se arriscam a dizer que já acabou), o mantra acaba se tornando "verdade" para aqueles que tem a mesma percepção, afetando o comportamento dos investidores e do cidadão de forma positiva. Vale lembrar que é necessário haver uma sequência de melhoras visíveis, ou seja ver as pessoas que estão desempregadas voltar ao mercado de trabalho e a pagar as suas contas, e haver uma estabilização dos preços dos imóveis, caso contrário o otimismo de parte dos analistas e o destaque dado a eles pela imprensa de nada servirá.
No mercado de café vimos finalmente uma realização dos preços, após Nova Iorque negociar acima de US$ 140 cts/lb nos três primeiros dias do mês de junho. Com fundos dirigindo o trem da alta, mais uma vez as origens aproveitaram para aumentar suas posições vendidas, com um certo receio, diga-se de passagem, das temperaturas baixas no Brasil na primeira onda de frio que passou pelo cinturão do café. A queda dos preços nos mercados futuros foram repentinas e acentuadas na quarta e na sexta, comprovando o que tenho falado, que quando o mercado começasse a cair seria de forma violenta.
O café na semana fechou com perdas de US$ 4.70 por saca na ICE, US$ 3.70 por saca na BM&F e com ganhos de US$ 1.20 por saca na LIFFE. A performance melhor do robusta em Londres se justifica em função do mesmo não ter acompanhado o movimento da bolsa americana que fez com que a arbitragem - diferença de preço entre os dois mercados - alargasse para quase US$ 98/saca e voltasse agora para US$ 86/saca. O motivo para o café negociado na bolsa europeia não ter encontrado força para subir se deve a oferta confortável que há do produto no mundo que inclusive tem provocado o contínuo incremento dos estoques certificados que hoje estão em recordes 5.6 milhões de sacas.
De volta ao arábica, a volatilidade não se restringiu aos mercados futuros. No mercado físico o destaque foi o desmoronamento dos diferenciais do café colombiano de 100cts/lb de prêmio que negociava até a semana passada para 50 a 60 cts/lb durante a semana. Intermediários que tinham alguns lotes comprados próximos aos níveis mais alto da história deste tipo de café tentam oferecer diferenciais de 65 a 70 acima, porém não encontra compradores. Parece que quem precisava comprar e ao mesmo tempo tinha mercado para vender Colômbia aos preços que estavam sendo praticados, saciaram a demanda. Imagino que também a notícia da importação que os colombianos vem fazendo de cafés do Peru e Brasil tenha chamado a atenção dos importadores tradicionais de Colômbia.
O fato é que o mundo está entrando no período em que sazonalmente o consumo de café é menor. A proximidade das férias escolares no hemisfério norte faz com que a temporada de compra dos torradores e dealers internacionais retorne apenas em agosto e setembro. Há também os estoques certificados de NY que permanecem sendo utilizados, caindo semanalmente em torno de 60 mil sacas. Esta queda dos certificados aqui é o argumento mais forte dos altistas, muito embora ainda há mais de 3,6 milhões de sacas. Assumindo que se mantenha o mesmo patamar de retiradas semanais até meados de novembro, quando novos cafés devem voltar a ser entregues na bolsa pelos produtores do suave, os estoques cairão para 2,2 milhões, níveis que não vemos desde meados de 2002, um pouco antes do Brasil colher uma safra de mais de 52 milhões de sacas.
Agora veja: com o Brasil produzindo 46 milhões de sacas na safra que está entrando, potencialmente podendo produzir uma safra recorde em 2010/11 (sabemos que ainda está longe para se falar disso), e com os produtores de suaves recebendo por seus cafés preços mais do que remuneradores e a Colômbia dizendo que a renovação do seu parque de cafezais pode elevar a produção do país para mais de 12 milhões de sacas (eles falam em até 17 milhões de sacas em 2015), me parece pouco provável que os estoques em NY romperão a barreira abaixo dos 2 milhões de sacas. Aliás, os torradores não se mostram preocupados justamente por isso e dentro deste cenário os diferenciais dos suaves voltarão ao normal a partir de setembro/outubro, justamente quando o mercado vai começar a especular sobre a safra brasileira de 2010/11.
No Brasil a colheita está em pleno vapor e a disponibilidade de café novo começa a aumentar.
Com a subida da bolsa esperamos que os produtores tenham aproveitado o quanto puderam para vender seus cafés. Quem ainda não vendeu ainda tem tempo. Mesmo aqueles que sempre mantém um estoque como poupança devem tirar proveito para fazer a renovação do estoque, vendendo o café remanescente ou da safra corrente e trocando a poupança pelo café novo que vai colher. Sabemos que infelizmente o rally da bolsa não foi inteiramente compensado no preço que se negocia café nas praças locais no Brasil por causa da queda do dólar americano, mas esta é a realidade que está aí. Depois se o mercado voltar a cair não vai adiantar olhar para trás e dizer que era melhor vender a R$ 270/sc do que a R$ 240.
A safra que está se colhendo teve um volume pré-comercializado muito menor do que as anteriores, impactada pela crise mundial e o crédito restrito. Isto pode provocar uma pressão vendedora dos produtores no período em que a demanda internacional é mais fraca. Faz tempo que não se vê pressão de venda no começo da safra brasileira, sabemos disso, porém o cenário este ano pode ser atípico. O pior é que a bolsa em Nova Iorque fechou a semana a quase 10 cts/lb das máximas e os fundos estão com uma posição comprada que não é pequena.
O mercado NY pode romper os 130 cts/lb e acabar escorregando até 125 cts/lb com fundos liquidando parte de suas posições mesmo que o dólar não se valorize (real desvalorize). Por outro lado muitos dizem que o movimento que vimos pode ser apenas de uma correção técnica e que os fundos vão voltar a comprar, e o mercado, voltar a subir. Porém os sinais vindos do mercado físico nos fazem pensar que o a bolsa está mais vulnerável para cair. O inverno brasileiro e os riscos de geadas deixam muitos com receio, e é neste ponto que sempre incentivamos o uso das opções tanto para se comprar proteção de preços para baixo como para ter um seguro de alta contra chamadas de margens que podem tirar o folego para se manter uma posição vendida.
Em resumo não adianta ficar segurando todo o estoque de café esperando para vender no topo dos preços, perdendo os momentos das altas, porque só sabemos qual foi o topo do mercado depois que ele já passou.
Tenham todos uma ótima semana e muitos bons negócios.
Obs.: este relatório, preparado pela Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda, é divulgado somente com o objetivo de prover informações e não representa, em nenhuma hipótese, uma oferta de compra e venda ou solicitação de compra e venda de qualquer instrumento financeiro ou serviço. As informações contidas neste relatório são consideradas confiáveis na data na qual este relatório foi publicado. Entretanto, as informações aqui contidas não representam por parte da Archer Consulting garantia de exatidão das informações prestadas ou julgamento sobre a qualidade das mesmas, e não devem ser consideradas como tal. As opiniões contidas neste relatório são baseadas em julgamentos e estimativas, estando, portanto, sujeitas a mudança.

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