Maria Sylvia Macchione Saes
Professora do Departamento de Administração da USP e pesquisadora do PENSA
Bruno Varella Miranda
Bacharel em Relações Internacionais pela USP e Pesquisador do PENSA
Exibido no último dia 7, o programa Globo Repórter, dedicado aos benefícios derivados do consumo de café, constitui mais um passo rumo à absolvição desse produto frente aos defensores da boa saúde. Injustamente associado a uma série de males nas últimas décadas, o café vem sendo objeto de intensas pesquisas, com conclusões positivas. Inclusive, nem era necessário a Globo para confirmar isso, dado que há tempos outros veículos de comunicação, como o CaféPoint, tem batido nessa tecla.
De fato, já não é de hoje que os consumidores absolveram o café. No entanto, o que explica a melhora da reputação do café frente à população não é tanto a queda de mitos associados à sua imagem. Mais que isso, foi somente quando o setor se uniu em torno de iniciativas sólidas que o brasileiro voltou a tomar gosto pelo café. Por isso, os excelentes números referentes ao consumo no país não se explicam a partir da capacidade da ciência em associar o café à saúde. Antes da explosão das pesquisas sobre o tema já havia muito a ser comemorado, como o melhor controle da qualidade do produto.
Resolvidos os problemas do café com a saúde de seus consumidores, é necessário entender os efeitos do café para a saúde de seus produtores. Indo além, são importantes pesquisas capazes de atenuar eventuais males trazidos a essa classe. Afinal, a enorme quantidade de reclamações dos cafeicultores nos últimos tempos certamente vem contribuindo para a deterioração de sua qualidade de vida.
Brincadeiras a parte, é considerável o grau de irritação de muitos produtores frente ao momento. Previsões catastróficas são frequentes, dando a impressão de que a cafeicultura não tem mais jeito. Um bom indicador desse quadro são as cartas publicadas aqui no CaféPoint. No geral, o produtor parece desanimado com sua atividade.
Soluções para o momento de desolação são variadas, e dependem do agente em questão. Em diversos casos, por exemplo, a busca por um controle mais atento dos custos já poderia garantir o alívio. No entanto, esse texto não se proporá a dividir os cafeicultores em grupos e receitar soluções para cada uma das reclamações. Pelo contrário, o que será aqui questionado é a saída apontada por diversas lideranças do setor, qual seja: a ajuda governamental.
Seja qual for o remédio proposto, dos preços mínimos ao calote generalizado, a impressão geral é a de que o curto prazo vem ditando o ritmo mais uma vez. Alívio imediato é o que parecem pedir as lideranças do setor. Porém, é necessário perguntar: qual a contrapartida? Haveria a intenção, por parte daqueles que clamam por ajuda governamental, de buscar soluções inovadoras que não estejam associadas à solução de sempre?
Por isso, é fundamental um pouco de autocrítica nesse momento difícil. Estará o setor fazendo tudo aquilo que pode? Que a cafeicultura é capaz de encontrar soluções para períodos de dificuldade, quanto a isso não resta dúvida. Além disso, não duvidamos que a cafeicultura tem todas as condições de se levantar frente aos tempos de dificuldade. Nos relatos desanimados, entretanto, a impressão passada é a de que a cafeicultura está fadada ao fracasso, e que sem o empurrão do Estado não há quem dê jeito nisso.
Em outras palavras, todos sabemos da importância da cafeicultura para a economia brasileira e o número de empregos que gera. No entanto, não parece prudente associar o Estado à tarefa de sustentar setores falidos, unicamente por sua suposta importância. Ou seja, ajudar a cafeicultura, do ponto de vista da sociedade, só faz sentido se a mesma for capaz de se manter sustentável no longo prazo. Ora, de nada adiantaria bancar os momentos difíceis se o fim da história é conhecido.
Da mesma forma como ninguém investe seu dinheiro em um negócio pouco promissor, é evidente que um Estado não deve fazer o mesmo. Assim, o principal desafio da cafeicultura no momento, mais do que angariar a simpatia dos formuladores de políticas públicas, é encontrar uma resposta independente do governo para a crise. Somente dessa forma o eventual empurrão dado no atual momento permitirá ao setor manter o ritmo no futuro.
Será melhor para o setor (e para o Brasil) se a resposta para a crise atual não estiver baseada unicamente na capacidade do governo de pagar a conta. Do contrário, seguiremos ouvindo os mesmos relatos, presenciando sugestões baseadas nos mesmos remédios e, consequentemente, perderemos ainda mais espaço no concorrido mercado internacional.
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segunda-feira, 17 de agosto de 2009
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