A ocupação do Norte do Estado
A ocupação do Norte do Estado do Paraná se deu anos após a ocupação do oeste e do Paraná Tradicional e está associada principalmente a expansão da cafeicultura paulista. Foi esta que propiciou a criação das cidades e de uma atividade econômica que permitiu construir boa parte da infra-estrutura do Paraná.
Sergio Buarque de Holanda (grande cientista social brasileiro. Seu livro "Raízes do Brasil" é um dos referenciais para o estudo do Brasil Colonial), ressalta que na região da...
...fundação de Ontiveros (1554) à margem esquerda do Rio Paraná e a da Ciudad Real de Guahira (1556), junto o Rio Paraná, finalmente, a de Villa Rica del Espirito Santo(1570), na direção do Rio Ivahi. Mombeig relata também a presença no Norte do Paraná de uma Colônia Militar em Jathai, na margem do rio Ivaí, instalada em 1853. Mas foi a partir do final do século XIX com a implantação da cafeicultura que se iniciou o processo de desenvolvimento da região . Tudo indica que houveram pelo menos duas etapas no processo de desenvolvimento da cafeicultura. A primeira, responsável pela ocupação dos vales dos rios Paranapanema, Cinzas e Itararé, comandada por vários empreendedores individuais, predominantemente paulistas e mineiros, deu início ao plantio do café em regiões próximas a fronteira paulista e a formação dos primeiros núcleos de povoamento: Tomazina (1865), Santo Antonio da Platina (1866), Wenceslau Brás (1867) e Jacarezinho (1900). Como decorrência ainda desta fase surgem, já no começo do século XX, outras cidades como: Cambará (1904), Bandeirantes (1921), Cornélio Procópio (1924) e Andirá (1926). O resultado desta primeira fase foi a formação do que convencionamos chamar de Norte Velho.
A segunda fase da colonização do Norte do Paraná foi aquela responsável pela criação das principais cidades como Maringá, Londrina, Cianorte, Paranavaí.
Ana Cleide Cesário (socióloga londrinense, professora da UEL, que estudou a economia, a sociedade e a formação do norte do Paraná) nos fala sobre esta fase:
"A segunda etapa deste processo é mais recente e se localiza no território compreendido pelas bacias dos rios Paranapanema, Tibagi e Ivaí, portanto a oeste da primeira. À medida que esta nova expansão da cafeicultura adentra o estado, vai tomando rumo noroeste. Iniciada no final dos anos 20 esta foi a fase mais dinâmica da cafeicultura. Várias empresas colonizadoras de capital privado atuaram nesta etapa, planejando tanto o assentamento de produtores rurais, quanto a formação de cidades que deveriam oferecer serviços urbanos necessários ao campo, onde se praticava a cafeicultura acompanhada de outros cultivos temporários como o arroz, o milho e o feijão. Dentre as empresas colonizadoras a Companhia de Terras do Norte do Paraná- CTNP, posteriormente chamada de Companhia de Melhoramento do Norte do Paraná- CMNP, foi a que exerceu a maior influência na região. Formada inicialmente por capital inglês, passou para a propriedade de empresários paulistas durante a Segunda Guerra Mundial. Em 1928 a CTNP possuía cerca de 516 mil alqueires."
Um dos pioneiros da região,
Sr. Álvaro Godoy (um dos colonos pioneiros de Londrina) descreve as cidades criadas na época:
"Para que este extenso território fosse colonizado a CTNP comprou a Cia. Ferroviária São Paulo- Paraná, cujos os trilhos alcançavam apenas Cambará. Em 1932, a ferrovia chegava a Jataizinho e em 1935 atingia Londrina, onde estava o escritório da Companhia, cidade que se torna núcleo principal de onde partiam todas as iniciativas de projeto que expandia as suas fronteiras rumo a noroeste do estado. A ferrovia acompanha a estrada de rodagem, aberta praticamente à sua margem, corta o principal espigão do norte do Paraná, ligando o Norte Velho e o Estado de São Paulo.
Surgem os novos núcleos povoadores como: Londrina, Nova Dantizig (Cambé), Rolândia, Arapongas e Apucarana, na década de trinta; e Maringá (1947), Cianorte (1953) e Umuarama (1955)."
Além da CTNP podemos citar também a atuação da Brazil Tokuhosku Kaisha e a Membei Tochikubushini, de capital estrangeiro, que resultaram no aparecimento das cidades de Uraí e Assaí durante a década de trinta, fixando japoneses que se ocuparam não necessariamente da produção do café, mas da produção de algodão. O Governo do Estado também vai contribuir para a formação de vários assentamentos humanos na região. Na década de vinte o Estado loteou extensas terras que deram origem a alguns municípios como: Sertanópolis, Primeiro de Maio, Faxinal e Marilândia. E na década de quarenta são de iniciativa governamental a formação das cidades de: Paranavaí, Jaguapitã e Centenário. Muitos problemas de terra também aparecem nesta época, como nos relata
Octávio Vieira Velho (estudioso das lutas de terras no Paraná):
"Na década de vinte e trinta, ao sul de Londrina, em Faxinal, Tibagi e Queimadas, eclodem grandes conflitos de terra entre posseiros e grande proprietários. Mas os maiores conflitos ocorreram nos anos quarenta e cinqüenta em Jaguapitã e Porecatu, ao norte da área da CTNP, devido a valorização das terras e o clientelismo político, que provoca uma especulação intensa no processo de regularização das terras."
Este processo colonizador puxado pela cafeicultura fez surgir no norte do Estado uma cultura diferenciada no Paraná, a cultura pé vermelha que, no turbilhão das culturas, foi mostrada pelas palavras de
Nilson Monteiro (jornalista londrinense hoje radicado em Curitiba, escreveu o livro "Curitiba Vista por um Pé Vermelho"):
"Pé vermelho, amo Londrina, a terra vulcânica e grudenta do Norte do Paraná, pedaço encarnado, gosto de viola nesta língua".
A cafeicultura do norte do Paraná possibilitou a redenção econômica do Estado, numa fase em que seus principais produtos estavam em declínio. E possibilitou ao Estado a constituição de uma boa rede de infra estrutura propulsora do desenvolvimento econômico em toda região.
http://www.cete.pr.gov.br/def/def_areas_historia_olhar.php
0 comentários:
Postar um comentário
Use os comentários com moderação (ou seja, educação).