
(Ilustração: Gabriel Daher)
A cafeicultura ainda hoje se destaca por uma notável riqueza cultural à altura de sua importância na formação econômica do Brasil. Será difícil as gerações futuras verem o mesmo nas culturas que hoje formam o grosso da produção agrícola nacional.
Comprova-o uma visita ao Museu do Café, no centro de Santos (SP), instalado num palácio que, a partir de 1922, abrigou a Bolsa Oficial do Café, central de operações comerciais. O prédio, restaurado em 1998, foi tombado pelo IPHAN (Patrimônio Histórico) no ano passado.
Na cafeteria, é possível provar os melhores cafés e blends produzidos nas principais regiões do País, sem ter de pagar os preços escorchantes de Starbuck´s e congêneres. Aviso: a coluna agradece, mas dispensa mensagens didáticas sobre a lei da oferta e procura.
Se a cafeicultura brasileira, de força inconteste no passado e presente ainda pujante, para assim manter-se no futuro precisará corrigir sua rota.
Na semana passada, a coluna visitou áreas tradicionais e produtivas no nordeste do estado de São Paulo, próximas das encostas de amena declividade dos cafeeiros do sul de Minas. Em São Sebastião da Grama (SP), paramos para conversar com um grupo de produtores.
O local tem história desde 1870. Coisa de desbravadores e tropeiros. Hoje, seus quase 13.000 habitantes, sem balbúrdia, em silêncio quase de monastério, ficam sabendo de todas as confusões do planeta, mas continuam preferindo falar de café. Ainda mais depois que o senhor Homero Teixeira, da Fazenda Recreio, venceu o concurso de melhor café produzido no estado de São Paulo, em 2008.
São regiões tradicionais, que cultivam cafés finos da espécie arábica, de custos mais altos de manutenção e preferidos no mercado externo. O Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café, o consumo interno está crescendo em taxas aceleradas e os preços internacionais estão favoráveis. A bianualidade aponta, em 2010/11, produção de 40 milhões de sacas beneficiadas de 60 kg (11,5% maior que a anterior)
Mesmo com tudo isso, a situação do produtor é deficitária. Dívidas acumuladas ao longo dos anos e a dificuldade em obter e pagar os custos atuais de mão de obra comprometem a rentabilidade, sobretudo, em áreas montanhosas de colheita e tratos intensivos. O fator trabalho pesa mais de 50% no custo de produção.
É claro que pelo lado das relações entre capital e trabalho isso é um dado positivo. Trabalhadores sendo absorvidos por setores da economia que remuneram melhor e exigem desgastes físicos menores é um fato que os produtores de café não podem lamentar.
Mas os problemas não se restringem a isso. É cada vez maior a participação do café robusta no mercado, produzido a custos menores, e cujo consumo mundial, em 30 anos, passou de 25% para 40%, no rumo de desalojar a posição mandatória do café arábica.
Ainda que aceitem discutir rotas de fuga para a situação, e elas passam pela redução da dívida em troca da erradicação da parte ineficiente do parque produtivo, o que acarretaria reduções de área, custos de produção, menor oferta e melhores preços internacionais, todos falam disso com muita relutância e dor. Compreensível.
Há lideranças sérias do setor sugerindo que, em função da escassez de mão de obra e dos altos encargos sociais, financeiros, tributários e ambientais, a expansão da cafeicultura está muito mais propensa a ocorrer em pequenas e médias propriedades familiares do que em áreas maiores, fazendas situadas próximas a grandes aglomerados urbanos, industrializados, onde são mais caros os fatores de produção.
Está aí um bom assunto para debate entre as entidades do setor e o governo.
Rui Daher é administrador de empresas, consultor da Biocampo Desenvolvimento Agrícola.

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